17 março 2007

Civil War: Especial - Análise a CW Frontline

A ideia não é recente e parece que virou moda transformar os sucessivos erros e decisões polémicas do governo norte-americano em material para filmes, música e neste caso comics.

Por causa da guerra ao terrorismo, nunca esteve tão em voga o confronto entre as liberdades individuais e os sacrifícios necessários para se “protegerem”. Nomeadamente abdicarem da sua privacidade.

Em qualquer guerra, existem relatos da mesma feita por repórteres. Numa altura em que o governo norte-americano é acusado de abafar o verdadeiro número de baixas no Iraque e que tenta controlar os media, Civil War: Front Line retrata 2 repórteres, Ben e Sally que tentam retratar os 2 lados da Civil War e tropeçam em verdades inconvenientes e até chegam a ser presos pelo governo para os fazerem calar.


Apesar de pertencerem a jornais diferentes, Sally e Ben conhecem-se e são-lhes apresentados ao seu trabalho nos próximos meses que será retratar a guerra que se aproxima entre os heróis da Marvel. Ben Urich, repórter do Daily Bugle, entusiasta das medidas defendidas por Tony Stark, graças a J. Jonah Jameson, e Sally Floyd, correspondente do The Alternative que irá retratar as violações dos direitos civis dos heróis à luz da nova legislação.
No 1º número desta mini-série de 11 números, os jornalistas são apresentados aos temas que irão retratar nos próximos meses. É-nos dada visão de Sally que entrevista o Homem-Aranha e onde já nos dá umas indicações que talvez um dia revele a sua identidade ao mundo mas ao mesmo tempo contrabalança com o facto de que as famílias dos heróis registados tal como ele, sejam ameaçadas por se tornarem públicas as identidades dos heróis. O Homem de Ferro dá uma conferência de imprensa onde revela a sua posição em relação ao Registraction Act e dá a conhecer ao mundo a sua identidade como Tony Stark.
Enquanto isso, Speedball único sobrevivente do desastre de Stamford, é encontrado, hospitalizado e mal acorda, como convém a uma agência governamental de segurança, é imediatamente preso e acusado de ter provocado a explosão em Stamford.
No 2º número e depois da grande revelação que foi dada a conhecer em Civil War #2, vemos as consequências dentro do Daily Bugle da revelação do Peter Parker ser o Homem-Aranha. Neste número vemos a posição de Ben Urich em relação ao registo dos super-heróis, assistindo juntamente com Sally ao 1º acto da futura guerra quando Prodigy se atira ao Stark acusando-o de ser um traidor. Paralelamente, a SHIELD aproveitando o facto do Aranha ter revelado a identidade, tenta entrar em acordo com Norman Osborn a.k.a. Duende Verde ao mesmo tempo que Speedball é “atirado ao lobos” e transferido para uma prisão que parece retratar Guantánamo (revelado pelo clima tropical e métodos brutos com que os guardas tratam o Speedball) só porque se recusa a assinar um acordo com o governo, admitindo que o desastre de Stamford foi culpa dele.
À margem do confronto de heróis, um novo elemento revela-se e mostra-se o surgimento de vários agentes adormecidos vindos de Atlantis, comandados por Namor que parece ter uma agenda desconhecida neste conflito.

Tratando-se de uma mini-série onde saíram 2 números por mês, é interessante ver a alternância dada entre Ben e Sally. Não há mês que falhe onde nos seja mostrada a visão das pessoas comuns e em particular dos 2 repórteres, dos eventos que alteram a vida dos heróis.
Sally encontra-se várias vezes com heróis do anti-registo para dar a visão deles aos leitores do The Alternative mas acontece que é seguida e o Homem de Ferro e a SHIELD caem-lhes em cima não se preocupando minimamente com a repórter que está no local que é salva por alguns heróis que se sacrificam para ela não ser apanhada e poder escrever os seus artigos. Ben Urich é confrontado com uma figura do seu passado que pensava ter-se livrado: o Duende Verde. Speedball continua a ser maltratado pelos guardas e restantes reclusos e num confronto um resto dos seus poderes é activado dando origem a uma pequena explosão e pouco depois a sua mãe visita-o dando-lhe a conhecer que toda a gente da sua família o acha responsável pelo desastre e ninguém o apoia.

Mais um assunto polémico é tocado em mais um número polémico desta mini-série. Na revista #5, Sally é abordada por elementos da resistência que a tentam desviar do objectivo dela de contactar com os elementos apoiantes do Cap. América. Por causa deste encontro, a SHIELD prende a repórter acusando-a de esconder a identidade de combatentes não registados e conspirar para cometer actos terroristas. Mais uma vez vemos uma agência de segurança passar por cima de direitos básicos de qualquer jornalista de manter secretas as suas fontes e devido à situação supostamente delicada que vive o país, prender jornalistas com base em falsas acusações.

No arco de histórias Sleeper Cell, Wonder Man é chantageado pela SHIELD para fazer vigilância aos agentes adormecidos de Atlantis mostrados no último número ao mesmo tempo que em The Accused, Speedball é transferido para a Zona Negativa onde ficará detido indeterminadamente na Fortaleza 42, prisão dos combatentes não registados.

Civil War: Front Line #6 passa-se ao mesmo tempo que Civil War #4, onde Ben Urich assiste ao confronto entre o grupo do Tony Stark e o grupo do Cap e onde Golias é morto pelo clone do Thor e chega a uma conclusão, “será melhor habituarmo-nos a isto”. Que melhor maneira de resumir o que se aproxima? Brutal arraial de porrada com heróis mortos à mistura tudo para o suposto bem da nação. E onde se encaixam as pessoas normais? Esquecidas pelos heróis que supostamente estão a batalhar para os proteger.
Ben começa a atirar à cara de Tony as suas más decisões numa rápida entrevista após o combate onde refere a má conduta de Thor e o uso de ex-criminosos, Tony esquiva-se à pergunta dando razão a Ben que promete ir atrás dele. Ao mesmo tempo Sally é pressionada pelo agente da SHIELD a revelar as suas fontes deixando escapar que a detenção foi feita por motivos políticos. Speedball conta como é a sua estadia na Zona Negativa. É fácil de ver a analogia com Guantánamo onde as condições são desumanas e nenhuma convenção protege os prisioneiros pois ninguém sabe da existência da prisão e que não foram formalmente acusados de nada. O líder do Quarteto Fantástico oferece uma hipótese a Speedball para ser ouvido no Capitólio. À chegada, e devido à fraca segurança no local, é baleado por um dos pais que perdeu o filho em Stamford. Em Sleeper Cell Wonder Man, numa vulgar missão de vigilância tropeça afinal numa base de agentes de Atlantis que se parecem preparar para uma guerra conforme mostra o número espantoso de armas no local.
No #7, Ben assiste no Capitólio ao atentado contra Speedball que mais tarde terá um acidente enquanto é transportado para o hospital devido a um possível ressurgimento dos seus poderes. Sally é visitada pelo senador Sykes, apoiante do Registraction Act que lhe mostra que apesar de trabalhar para que a lei seja implementada da melhor maneira, sabe que nem tudo corre bem e que afinal Sally não está contra a lei mas sim a forma como ele é implementado. A Norman Osborn é oferecido um acordo por um homem que não é revelada a sua cara mas que está ligado aos heróis a favor do registo. O acordo consiste em ficar livre do controlo da SHIELD em troca de um favor que mais tarde será cobrado.
Front Line #8 dá-nos o encontro de Sally com um mendigo que se revela ser o Cap. América para dar uma entrevista. Ben visita o local destruído no número anterior pelo Duende Verde, base de agentes de Atlantis que o Wonder Man estava a vigiar e começa a tentar descobrir que género de ligação há entre Tony Stark e Norman Osborn. Ambos os jornalistas estão agora lançados na perseguição da verdade sobre o porquê do Duende verde andar aparentemente à solta.
Uma embaixada de Atlantis visita os EUA mas Norman Osborn saca de uma arma e atira no embaixador dando origem aparentemente a um acto de guerra entre humanos e Atlantis.
Speedball é tratado por Reed Richards que descobre que este parece estar a demonstrar poderes novos derivados das experiências traumáticas vividas em Stamford e no Capitólio.
Retomando a entrevista deixada no último número, Sally tem direito aos seus 15 minutos com o líder da resistência, o Capitão América em pessoa. Apesar de ser repórter, Sally não deixa de dar a sua opinião acerca da posição que tomou o Cap. Isto dá azo a uma discussão acerca do que é a guerra. O Cap. defende que está do lado da resistência pois acredita estar a combater um ideal que dividiu a América e sendo ele responsável pela segurança do país, decide ir contra o Governo que antes defendia. Uma interessante discussão sobre o que é a guerra onde não existem bons nem maus, apenas pessoas defendendo um ideal que acham ser o mais correcto. Apesar de ter o homem mais procurado da América disponível para lhe contar tudo, Sally desiste da entrevista revendo-se no Capitão: teimosa, com certeza de que estava certa mas desencaminhada…
Enquanto isto, Peter Parker e Ben seguem uma pista que pode revelar que Tony Stark anda a lucrar com toda a guerra e até programou certos acontecimentos para enriquecer a sua empresa e Tony Stark revela a Reed Richards que há um traidor dentro dos Vingadores e que soube desde o início.
Speedball revela os seus novos poderes quando alguns prisioneiros tentam escapar da prisão The Raft, deixando-os a todos incapacitados e revelando aos guardas que afinal se quer registar.
Finalmente, e para finalizar Sleeper Cell, depois do Osborn ter atirado sobre o embaixador de Atlantis e ser preso pela polícia, é interrogado alegando que não foi ele e que não pode dizer quem o controlou e o meteu naquele local com segurança reforçada. O interrogatório é interrompido por uma personagem misteriosa que alega razões de segurança nacional para interromper o interrogatório e levar o prisioneiro.

Quase a finalizar a mini-série escrita por Paul Jenkis que trouxe alguma polémica por abordar assuntos delicados para os norte-americanos, Ben e Sally decidem despedir-se dos seus jornais por terem um artigo tão bombástico que nenhum dos jornais se iria atrever a publicar. Ao encontrarem-se para darem a conhecer um ao outro as conclusões a que chegaram, heróis registados e não registados combatem nas ruas obrigando os repórteres a refugiarem-se. Os mesmos heróis que deviam proteger as pessoas estão a ignorá-las na ânsia de apanharem mais combatentes não registados.
Na 10ª e última parte de The Accused, Speedball cumpre os termos do acordo que fez com Reed Richards e o governo e confronta o homem que o baleou para conhecer a sua dor. Speedball queima o seu antigo fato e assume uma nova identidade com o novo fato que lhe arranjam. Este fato é uma alusão ao desastre de Stamford já que está revestido de espigões que dão ao seu portador tremendas dores, isto porque agora os novos poderes de Baldwin são accionados pela dor. Assim, Speedball desaparece e é altura do Penance surgir, clara alusão à penitência que Baldwin pretende fazer por se sentir responsável pelo desastre de Stamford.

No 11º número da mini-série (número extra já que estava previsto apenas saírem 10), temos o número que na minha opinião é o mais interessante na medida em que vemos todas as razões que levaram os líderes das 2 frentes a confrontarem-se alegando que estavam a fazer o melhor par ao país.
Sally e Ben juntam-se para escrever um artigo que mostre os 2 principais lados da guerra civil. Para tal, entrevistam primeiro o Capitão América, encarcerado devido aos eventos que ocorreram em Civil War #7. Este justifica-se com o facto que nunca lhe deram hipótese de negociar os termos do registo e como achou que estavam em causa direitos fundamentais de liberdade de qualquer cidadão americano, herói ou não, teve que se armar a combater para ser ouvido. Aqui ele admite que foi errado ter-se precipitado e que podia ter evitado todas as perdas se viesse a público como fez Tony Stark ou Reed Richards apresentar a sua posição e argumentos mas que combateu pelo que achava ser melhor para a América. É aqui que Sally confronta Steve Rogers com uma conclusão no mínimo brilhante sobre o que o Cap. acha que é a América. Se o Cap. nunca visitou o Myspace ou conhece o último vencedor dos Ídolos ou ainda viu alguém vez um vídeo parvo no Youtube apenas pelo prazer de ver então como é que sabe o que é o melhor para o país se não sabe como é ser um vulgar cidadão desse país? Rogers põe num pedestal o ideal americano que tanto defende não sabendo se o país quer que ele o defenda ou não. No caso do Registraction Act, o país clamava por ele mas o Capitão foi demasiado “surdo” para não o ouvir e fez o que sempre soube fazer, combater um ideal com outro ideal e no seu caso, um ideal há muito ultrapassado.
Com a entrevista a Tony Stark marcada para 10 dias depois, os jornalistas trabalham na história sobre a Civil War que nunca irão divulgar mas continuam com outros trabalhos na empresa criada por eles, frontlines.com, onde retratam tudo o que esteja ligado aos recentes confrontos dos heróis e a ameaça real que é a declaração de guerra de Namor aos EUA.
Chegado o dia da entrevista a Tony Stark, Sally confronta este com os podres por detrás de toda a recente guerra. Uma lei duvidosa é aprovada em menos que nada no senado, heróis que nem tempo tiveram para pensarem sobre o registo são atirados para uma prisão num local indeterminado com condições desumanas, acordos são feitos com criminosos perigosos como o Duende Verde que acidentalmente inicia uma guerra com a potência que é Atlantis e para tornar as coisas ainda piores, eles sabem que há um traidor dentro dos apoiantes de Tony Stark e esse traidor é precisamente ele.
O soro responsável pela aparente liberdade do Osborn só poderia vir dele, uma jogada arriscada que conseguiu dar frutos já que com a iminência de uma guerra, a lei do registo encontrou mais apoiantes desejosos de defender o país de um inimigo comum que é agora Namor e Atlantis. Tony Stark sacrificou o seu estatuto de herói, amigo e colega para o bem da nação e como tal, Sally e Ben apenas foram lá para mostrar o seu apoio e dizer-lhe que nunca iriam publicar essa história para não comprometer o trabalho que tem tido. Nas páginas finais podemos ver um Tony Stark amargurado que derruba o capacete da sua armadura e chora pelos sacrifícios feitos.
O final ideal para uma mega-saga que mudou o panorama de todo o universo Marvel e que terá repercussões em todos os títulos e por muitos anos.

Paralelamente em todos os números da mini-série, temos histórias de guerra reais como a do Golfo, Vietname, I e II Guerra Mundial. Relatos e poemas, muitos deles anónimos que são comparados com os eventos actuais da Civil War através das imagens. Uma forma brilhante de comparar o passado real com uma guerra ficcional mas que tem de tudo de verdadeira. Os medos, aspirações, convicções e confrontos de quem as viveu.


Por:
- Snake-Charmer

3 comentários:

  1. Alto Artigo!
    Parabéns Snake, está bastante fixe!

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  2. Tambem gostei bastante. :)

    Abracos
    Grimlock

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  3. fizeste uma analise apurada dos eventos que marcaram a guerra civil, esta fascinante saga! gostei muito do teu texto! na guerra realmente as vezes fica dificil definir o certo e o errado. na vida as coisas as vezes não são preto nem branco mas cinza! mesmo assim devemos sempre lutar pelo o que é correto. pois a bondade, a justiça e o respeito ao proximo é algo que todos podem enxergar com clareza.

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