01 junho 2014

X-Men #1-3

Argumento: Brian Michael Bendis | Arte: Stuart Immonen, David Marquez
A Marvel Comics está de volta a Portugal na língua de Camões graças à Panini Comics, após um hiato de vários anos cujo fim ninguém esperava tão cedo. A última vez que tivemos o privilégio de ler comics mensalmente em português, era a Devir que estava encarregue deste esforço estóico de publicar banda desenhada neste país e desde então a única maneira de saciar a nossa fome era através das sobras que vinham do Brasil que, diga-se de passagem, não primavam pela qualidade. Ao início vi com bons olhos esta solução de recurso, mas com o tempo foi possível verificar que não estavam garantidos os níveis mínimos de qualidade - traduções não muito inspiradas, qualidade do papel abaixo do que estávamos habituados, má distribuição e exemplares que chegavam a Portugal completamente destruídos na maioria dos casos. Mas será que isto foi tudo resolvido com as novas edições da Panini?

Pode-se dizer que os problemas foram parcialmente resolvidos, pois ainda há muito espaço para melhorar. A questão mais importante será sem dúvida a da distribuição. Até encontrar as primeiras edições dos 3 títulos que foram publicados (X-Men, Homem-Aranha e Vingadores) tive de visitar quase 10 estabelecimentos que me respondiam sempre o mesmo - não recebemos nada e nem sequer vamos receber. Isto tudo porque a distribuidora responsável já não é bem vista pelas pequenas papelarias que agora se recusam a trabalhar com ela (problemas de devolução do material). Até hoje ainda não encontrei o TPB que dá início à nova fase do Homem Aranha Superior e julgo que nunca o irei encontrar. No entanto, parece-me que as Fnacs têm recebido todo as edições desde os primeiros percalços, pelo que a situação tem vindo a estabilizar.
Outra questão que se levanta é a da tradução/legendagem. Infelizmente tenho encontrado todos os meses erros de tradução/legendagem bastante evidentes que não dão uma imagem muito profissional à Panini, mas não é nada que afecte a leitura. No entanto, julgo que é um detalhe que que deve ser analisado no futuro e de que preferência não se repita mais vezes. É urgente que alguém faça uma análise às traduções antes das edições partirem para a gráfica.
De um modo a geral, a qualidade das edições está a um nível bastante elevado. Design agradável, papel de qualidade e textos suplementares dos editores bastante informativos que conseguem situar o leitor nesta nova fase do Universo Marvel. O preço também me parece bastante razoável, visto que €3.5 é provavelmente o preço que se paga por apenas um comic importado de 22 páginas.

Feita esta análise introdutória, sigamos para os verdadeiros protagonistas. Este é um novo Universo Marvel. É provável que os leitores de longa data não se sintam tão confortáveis com estes resets que ocorrem de 5 em 5 anos, mas esta é a única forma de atrair novos leitores ou recuperar os que já tinham fugido.
Estas renovações cíclicas já são um hábito da Casa das Ideias e até parece que a DC já está a seguir um modelo semelhante (não tão bem sucedido a meu ver). 
Já há alguns anos que a Marvel está a caminhar em direcção a um formato bastante hollywoodesco, onde os grandes eventos de Verão são a grande atracção, mas o que agora se verifica é que até os títulos ongoing são cada mais uma espécie de blockbuster de proporções épicas com os melhores actores, cenários e realizadores onde somos presenteados com doses elevadas de drama, acção e comédia e é aí que entram figuras como Brian Michael Bendis ou Jonathan Hickman. São estes os homens do momento responsáveis por esta revolução e as histórias que eles pretendem contar são no mínimo ambiciosas, mas de Hickman falaremos noutro post. 

Os eventos descritos neste novo capítulo da vida dos X-Men são uma consequência directa da saga Avengers vs X-Men, onde o Professor Charles Xavier foi morto pelos Phoenix Five. Ao que parece, a Fénix regressou e apoderou-se de Ciclope, Emma Frost, Magick, Collosus e Namor e desencadeou uma guerra entre mutantes e Vingadores que no final resultou numa perda trágica. Resultado? O status quo do Universo Marvel é alterado mais uma vez de forma radical. De um lado temos os X-Men legítimos descendentes de Xavier liderados por Wolverine que continuam a lutar pelos ideias do seu pai fundador. Do outro lado temos um grupo liderado por Ciclope que é intolerante quanto à forma como os mutantes são tratados e que pretende lutar pelos direitos destes, derramando sangue se tal for necessário. Deste bando marginal faz também parte Magneto que parece ter a sua própria agenda e que promete criar desconfianças dentro do grupo.
O objectivo principal destes últimos eventos da Marvel é sem dúvida nenhuma o de aproximar os X-Men ao universo regular, visto que o grupo de mutantes estava cada vez mais afastado das luzes da ribalta. Avengers vs X-Men foi o primeira passo nesta reorganização e o título Uncanny Avengers, uma formação de Vingadores constituída por Mutantes e Super-Heróis comuns, é outra peça importante neste novo mundo que Steve Rogers quer construir - um sítio onde humanos e mutantes possam coexistir pacificamente, uma problemática que Rogers tem ignorado nestes últimos anos.
O ressurgimento do Gene X, gene cuja activação é completamente aleatória e resulta na formação de um novo mutante, está também na origem da rivalidade entre os dois grupos de X-Men. Ciclope voltou ao clássico processo de recrutamento de jovens mutantes com o objectivo de criar uma escola para crianças dotadas, seguindo parte dos ensinamentos de Xavier. Digo "parte" pois este Ciclope já não é um mártir que pretende defender humanos de forma a ganhar a sua confiança. O novo mote é a protecção de mutantes custe o que custar, independentemente de quem seja o inimigo.

A forma como Bendis pretende lidar com este assunto é no mínimo polémica. O Fera decidiu que a melhor maneira de demover Ciclope dos seus novos ideias era convocando os X-Men de um tempo passado e foi precisamente isso que aconteceu. Através de uma viagem no tempo, os jovens Ciclope, Jean Grey, Fera, Homem de Gelo e Anjo são chamados ao presente e usados como arma psicológica para derrotar a revolta de Ciclope. Já todos sabemos que viagens no tempo são sempre uma forma perigosa de contar uma história, mas até agora parece que as coisas estão a correr bem. É cedo para fazer grandes análises, mas o que é facto é que até agora tivemos grandes momentos, como as discussões entre Wolverine e o Ciclope do passado que desencadeou diálogos bastante divertidos e cheios de tensão. As interacções entre os dois Feras também foram bastante interessantes, tal como a reacção da jovem Jean Grey ao descobrir que já não estava viva no Presente, resultando numa explosão de emoções e mais tarde na descoberta dos seus poderes telepáticos.

Esta nova fase dos X-Men tem tudo para correr bem, apesar de ainda não ter acontecido nada de verdadeiramente incrível para confirmar a sua qualidade. No entanto acho que está na mesa o suficiente para intrigar novos leitores a saltarem para as páginas desta nova saga que vai ter, certamente, consequências explosivas para o Universo Marvel.

O Bom:

  • Stuart Immonen confirma aqui porque é um dos meus desenhadores preferidos da Casa das Ideias. Lembro-me sempre de Superman: Secret Identity quando leio algo deste artista e a sua arte continua tão impressionante hoje em dia como era antigamente.
  • Diálogos bastante bons que fazem jus ao tradicional estilo de Brian Michael Bendis.
  • Os encontros entre as versões passadas e presentes dos membros dos X-Men criaram situações bastante interessantes que são certamente o ponto alto desta storyline
  • A cena em que o Ciclope do passado entrega a Jean Grey um convite para o casamento de ambos, que o primeiro havia encontrado num cofre do Ciclope do tempo presente. O momento mais emocionante desta série até agora.

O Mau:

  • Viagens no tempo? Tem tudo para correr bem, mas também tem tudo para correr mal. Será sempre inevitável a criação de paradoxos que podem deixar confusas as mentes mais distraídas e isso é algo que Bendis certamente quererá evitar.
  • O encontro entre Wolverine e Jean Grey poderia ter gerado uma situação bastante emotiva para ambos, mas tal (ainda) não aconteceu.

Nota: 8/10

1 comentário:

  1. Portugal's crippling socio-economic meltdown commenced over a decade ago, but we are currently seeing it's acceleration due to the Covid 19 pandemic.
    Reading some of the delusional comments on here being made by Portugal's high mass of unemployed is a reminder as to just "how" a country self-desintegrates when there is no meaningful work. Just lies, deception, and hate propagate forth.
    There won't be much left of Portugal in the coming months as it Sinks into oblivion! Fortunately, i do not live in that hell hole so i won;t be vaporised into nothingness!

    https://portugaltruths.neocities.org/

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